sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Ensaio com Naná Vasconcelos - Oxum Mirim


Cada maracatu tem seu jeito de ser, identidade própria, definida muitas vezes por suas características percussivas, por um modo de bordar ou confeccionar suas fantasias, pela performance de seus dirigentes, reis, rainhas e mestres. Com o Oxum Mirim não é diferente. Mas quando conhecemos um maracatu atuando na sua comunidade percebemos outras diferenças e sutilezas. E só mesmo o trabalho de campo nos proporciona essa oportunidade rara de observar, e aprender, e também refletir. Desde o ano passado, quando fomos ao Oxum Mirim para gravar o batuque no projeto Inventário Sonoro dos Maracatus Nação, pude perceber a relação diferenciada das crianças que assistiam ao batuque, com a música e seu aprendizado. Nas grandes nações, as crianças estão ao redor, é claro... mas nem todas tem permissão para pegar instrumentos, tocar, experimentar, brincar e aprender. Não é assim no Oxum Mirim! Enquanto eles tocam, elas dançam, e fazem que tocam, mesmo que com uma baqueta quebrada. 




 A criançada se diverte a valer, quando o batuque dá um descanso, porque ninguém as proíbem de se chegarem nos tambores e percutir à vontade! É assim que se aprende aos poucos, na lógica da transmissão oral, inerente à cultura popular. Não é a única forma, é claro!



Neste ensaio, pudemos perceber as dificuldades que é manter um batuque formado principalmente por jovens e crianças. Naná que o diga, já que não mediu esforços para que o batuque se afinasse, entrasse no tempo  e pudesse fazer na abertura do carnaval um bom espetáculo. Mas acho que a presença de um músico experiente ensaiando com o batuque não deve ser reduzida à essa única dimensão, pois ontem Naná atuou como um verdadeiro professor, com paciência para fazer de novo, e de novo, e de novo, até as crianças e os jovens aprenderem.




Bem tinham razão os dirigentes do Núcleo Afro que tanto insistiram para que os ensaios ocorressem também nas comunidades, com cada maracatu. Experiência que nos faz refletir sobre as políticas públicas e o dinheiro que se investe em cada um desses ensaios. Pela experiência de ontem, valeu a pena.



Ao final, batuque ajustado, lindo de se ver!

Nenhum comentário:

Postar um comentário